sábado, 12 de novembro de 2011

O cruzeirense não se acha... Ele se tem certeza.

Mais um texto brilhante do atleticano Fred Melo Paiva. Extraído do Jornal O Estado de Minas de hoje, 12/11/2011.


O cruzeirense não se acha - ele se tem certeza

Fred Melo Paiva
arquibancada.em@uai.com.br

Publicação: 12/11/2011 04:00

Outro dia, apenas para saciar a minha mórbida curiosidade pela desgraça dos outros, entrei nas páginas de um site com noticiário do Cruzeiro. Faço isso uma vez na vida e outra na morte, sempre olhando para os lados, receoso de que alguém me flagre nessa pornográfica situação. Por fim, costumo deixar uma mensagem para o sujeito que faz as contas dos page views: “Desculpe, foi engano. Gentileza desconsiderar esta visita”. Eu é que não vou dar audiência pra esse pessoal.

Mas eu ia dizendo que outro dia então cometi esse negócio de entrar num site do Cruzeiro, e lá estava uma torcedora com um cartaz nas mãos: “Tá bom, eu já entendi o que é ser atleticano. Agora vamos reagir”. Considerei o texto razoável, a vírgula correta e a ideia criativa. Ao contrário do que já se disse sobre Andrés Sanches, pensei: aquela ali devia ter completado o Mobral. E lembrei o meu amigo Kiko, outrora um galanteador, que ao ser apresentado a mulheres cruzeirenses procurava evitar constrangimentos lançando mão de uma tese, salvo engano, cunhada por ele próprio: “Não se preocupe, querida, há uma regra que diz: ‘Toda mulher é cruzeirense, todo cruzeirense é mulher’”. Ótima tese, mesmo correspondendo a uma meia verdade.

Eu poderia ter ficado com raiva da menina do cartaz. Poderia atingi-la com golpes abaixo da cintura, bastando que eu citasse a própria inexistência dessa sua parte do corpo, recauchutada por uns pneuzinhos de SUV. Poderia atacá-la, mesmo vendo pela foto que teria de enfrentar um canhão. Talvez, apenas para matá-la de inveja, eu afinasse. Mas veja como a tabela do campeonato amolece o coração da gente: eu fiquei com pena da menina do cartaz. Uma pena genuína, que quase me faz obrar um daqueles textos-poemas que a crônica esportiva de vez em quando comete: “Ó, menina do cartaz, quem é você? O que te apraz? Uma frase benfeita? Alguma coisa por trás?” Ainda bem que resisti à tentação.

A menina do cartaz diz que já sabe o que é ser atleticano. Coitada: ela certamente entende mais de física nuclear. Se tivesse compreendido um pouco do que é ser atleticano, tratava de repensar a soberba que tanto caracteriza o torcedor do Barcelona das Américas (o catalão que, ele deve pensar, dá nome à avenida). O cruzeirense é aquele tipo muito bem definido pelo Juca Kfouri: ele não se acha – ele se tem certeza.

Ao contrário da menina do cartaz, o Cuca entendeu rapidamente a diferença entre o atleticano e o cruzeirense. E se identificou com a massa. Porque, a exemplo do atleticano, o Cuca é simples: não inventa, escala o que tem de melhor e ponto. Depois de Vanderlei Luxemburgo – o maior erro de Alexandre Kalil e da própria torcida – e de Dorival Júnior, o Atlético parece agora ter um técnico pra valer. Se o Kalil vencer as próximas eleições, tem de fazer como o Cuca: não inventar. Tem de manter uma base, parar de mudar tudo a cada fim de ano. E trazer o Tardelli, pelo amor de Deus.

Restam quatro pontos para o Galo escapar do rebaixamento. Vamos na raça, na força da torcida e na humildade – justamente aquilo que falta à concorrência.

sábado, 5 de novembro de 2011

FANÁTICOS ATLETICANOS (JORNAL EM - 05/11/2011)

Texto retirado do Jornal Estado de Minas.Uma ode a Dom Diego!!!
Penhora a sede, Kalil, mas traz o Tardelli

Publicação: 05/11/2011 04:00

O que poderia ser mais importante do que a volta de Diego Tardelli? A invasão da reitoria da USP pelos esquerdistas lisérgicos? A lenha lançada à fogueira pelo grego doidão, o premiê Papandreou sei-lá-o-quê? O coito não interrompido do Justin Bieber, que agora nos ameaça com a possibilidade de gerar descendentes? Nada disso chega ao joanete da volta de Diego Tardelli – só comparável ao retorno de Jesus Cristo, e olhe lá.

Vejo agora na ESPN o Kalil dizendo que dom Diego não vem: “As chances são zero. O Anzhi está pedindo muito alto, mais ou menos o que pagaram ao Atlético”. Uai, mas não foi outro dia mesmo que nós vendemos o cara? Para com isso, Kalil. O Tardelli não é carro novo, que você tira da concessionária e vale 30% menos no dia seguinte.

Como assim, as chances são zero? Penhora a sede, vende a praça de alimentação do Diamond Mall, o estacionamento, as salas de cinema. Oferece para os russos uma base de lançamento de mísseis na Cidade do Galo, para o caso de voltar a Guerra Fria. Cria um 0800, que o atleticano doa o 13º, as cuecas e até a própria mãe. Telefona para o Ricardo Guimarães, para o Constantino Júnior, para o Rubens Menin – todos atleticanos bilionários, para quem um Tardelli a mais ou um Tardelli a menos não vai fazer diferença no balanço. Sei lá, Kalil, faz qualquer coisa, mas acerta logo esse negócio. Até porque vejo aqui no Twitter que Palmeiras, Flamengo e Corinthians já manifestaram interesse em dom Diego. Se vejo o Tardelli com a camisa de outro time, vou ter de dar uma suicidada.

O Tardelli precisa do Atlético e o Atlético precisa do Tardelli. Não se trata somente de voltar a fazer gols. Um grande clube precisa de um grande ídolo e não apenas do melhor CT do Brasil. Eu não posso mais chutar bola com meu filho pequeno e dizer que ele é o Neto Berola. O Atlético tem de pensar em Diego Tardelli como o Santos pensou no Neymar. Temos de oferecer a ele um projeto que inclua a construção duradoura da sua marca. Temos de oferecer a ele ferramentas de marketing capazes de transformá-lo num ídolo da estatura do Reinaldo. Temos de recebê-lo num Mineirinho lotado, com uma linda festa. Temos de fazer bonecos do Tardelli, vender camisas exclusivas, incluí-lo nos principais eventos da cidade, assessorá-lo com as melhores cabeças.

Dentro de campo, é preciso fazer de tudo para proporcionar a ele o sonho de jogar a Copa de 2014 – o Atlético com Tardelli precisa jogar em função do Tardelli, para que ele faça gols, mas também para que seja o ídolo de que necessitamos. Temos de oferecer a ele um projeto de vida no clube para quando parar de jogar futebol. Como, aliás, temos de fazer com todos os ídolos do passado. É assim que se constroem as novas gerações de torcedores – é assim que a gente vai renovar a mística da camisa branca e preta pendurada no varal etc. etc.

Se o Tardelli for jogar no Corinthians ou no Palmeiras, será apenas mais um bom atacante jogando em um grande clube. Só no Atlético ele tem a chance de se transformar em Reinaldo, Sócrates, Zico, Dinamite, Pelé. Isso não tem preço.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VAMOS TER QUE ESTOCAR COMIDA EM MG - Prof. Flaviane

Abaixo estão comentários da professora Flaviane de Magalhães Barros
(http://lattes.cnpq.br/1159840059123495) sobre a Resolução Conjunta
148/2011.



Vou usar a frase do prof. Lenio, VAMOS TER QUE ESTOCAR COMIDA EM MINAS GERAIS!!!
A Resolução Conjunta entre a Polícia Civil e Militar de Minas Gerais assinada pelo Secretário de Estado de Defesa Social é um absurdo!
O secretário de estado diz que a Polícia Civil trabalha com efetivo reduzido, que as comarcas são distantes e que a PM não pode se afastar do local do policiamento para fazer os flagrantes, então, aos finais de semana e após as 18:30 se transfere ao policial militar a discricionariedade de dizer quais são os crimes que devem ser efetivados os flagrantes e quais ele lavrará o BO com o compromisso da vítima, agente da conduta e testemunhas de irem à delegacia no próximo
dia útil! Serão os policiais que fazem o policiamento ostensivo que decidirão qual conduta se amolda a um tipo penal de pena até 4 anos, quais são com violência ou grave ameaça, quais afetam a ordem pública.
Abrimos mão do estado direito em Minas e adotamos o estado de Polícia.
Nem na ditadura militar se dava tal discricionariedade ao efetivo do policiamento ostensivo. Agora abrimos mão da polícia judiciária, do MP e do Juiz. E os que forem presos porque não se enquadram na exceção, aí a PM vai prende-los e eles vão ficar esquecidos no plantão até o primeiro dia útil.
Onde está o MP, que tem atribuição constitucional de realizar o controle externo da policia?
Onde fica a garantia de ser imediatamente comunicada as prisões aos juízes?
Onde estão a OAB e os advogados que não protestam contra isto?
Vou ter que concordar com o Prof. Lenio novamente, a possibilidade do delegado arbitrar a fiança até 4 anos, em que pese a noção de proibição de excesso, será o início do fim da lei 12.403/2011 e precisa ser declarada inconstitucional nesta parte. Aqui em Minas ela permite esta barbaridade, como não tem delegado suficiente a policia militar fará as suas vezes.
Termino lembrando Pedro Aleixo, vice-presidente da Republica, e sua famosa frase: quem vai cuidar do guarda da esquina?
Um abraço a todos e comecem a estocar comida, refugiem-se em suas casa nos horários em que a Polícia Civil não tem contingente suficiente.

sábado, 20 de agosto de 2011

Há derrotas e derrotas - e vice-versa

Achei este texto fantástico, síntese do sofrimento atleticano.
Há derrotas e derrotas - e vice-versa

Fred Melo Paiva

Publicação: 20/08/2011 04:00


>>esportes.em@uai.com.br

Escrevo esta coluna tão desanimado da vida, tão desesperançado de tudo, que cogitei ligar para o Cuca e ver se ele não tinha uma caixa de Prozac sobrando. Estou mais para baixo do que bolsa de valores, mais caído do que os ministros da Dilma. Fui tomado de um pessimismo tão avassalador, mas tão avassalador, que ficou impossível afogar as minhas mágoas: só consigo enxergar a metade vazia do copo.

Há derrotas e derrotas – e vice-versa. Algumas delas são insossas, sonolentas, e é preciso ficar de pé diante da TV ou colocar dois palitos nos olhos, senão você dorme. Foi assim contra o Botafogo, na estreia da Copa Sul-Americana, quando perdemos por 2 a 1. É tão rotineiro e entediante perder para o Botafogo, que o jogo foi outro dia, mas tive de ir ao Google lembrar a história dessa última peleja.

Há derrotas, porém, de outros tipos. Como aquelas em que merecíamos vencer e fomos injustamente garfados pelo juiz ou pela falta de sorte. Aconteceu recentemente contra o Grêmio (foi um empate) e contra o Palmeiras. Em tempos idos nem se fala – desde o Brasileiro de 1980, esta sempre foi a modalidade por excelência das nossas derrotas. Para voltarmos ao Botafogo, essa pedra na chuteira, lembremos a eliminação da Copa do Brasil em 2007 – 2 a 1 para o Carlos Eugênio Simon.

(Hoje enfrentaremos o Botafogo pelo Brasileiro. Terça-feira, de novo, pela Sul-Americana. Ambos os jogos são fora de casa. Vou chutar o placar: WO e WO – alguém terá tido a ideia de ficarmos por aqui mesmo, poupando umas milhas e a nosotros de ver em campo o Atlético mais ridículo de todos em tempos).

Foi só um parêntese. Na falta do Prozac, concentremo-nos em derrotas já ocorridas: não há tipo pior do que a de quarta-feira diante do Corinthians. Odeio o Corinthians. Como vivo em São Paulo, o Corinthians é o meu Cruzeiro. Já terminei um casamento por causa do Corinthians. Agora, sonegarei impostos para que no futuro, quando alguém disser que o Itaquerão foi construído com o nosso dinheiro, eu possa esclarecer: “Com o meu, não. Só se foi com o seu”.

A derrota de quarta não foi insossa nem injusta. Foi vexaminosa, ridícula, 90 minutos de pastelão para o Brasil inteiro assistir. Com uma cereja que não sei se fez parte do bolo na transmissão para Belo Horizonte: o comentarista de arbitragem da Globo era o José Roberto Wright. Só pode ser uma brincadeira. A Globo poderia chamar o Simon para os jogos contra o Botafogo. E o José de Assis Aragão quando formos enfrentar o Flamengo. Se bem que este eu não sei se está vivo ou já se encontra no inferno. (Ops, o Google informa: está vivinho da Silva, acusado de corrupção em duas das quatro primeiras entradas do site, ele e a sua consorte).

Quando o Atlético perde do jeito que perdeu, desejo verdadeiramente me livrar dessa doença que é ser atleticano. Se pudesse, estaria ocupando a cabeça, sei lá, com pensamentos sobre a versatilidade da presidente Dilma – ao mesmo tempo gerente e faxineira. Mas não consigo: o atleticano é perseguido pelo Atlético. É como se o Réver, com seu único neurônio, estivesse sempre no seu encalço.

domingo, 31 de julho de 2011

SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL - QUATRO DÉCADAS DE EQUÍVOCOS


O Artigo abaixo foi escrito em 2002 pelo Tenente-Coronel PAULO ROBERTO BORNHOFEN da Polícia Militar de Santa Catarina. Excelente!


Segue o texto:


A Segurança Pública se tornou um tema tão popular como o futebol e a economia. Assim como o futebol e a economia, quando aparece uma crise, também, aparecem os especialistas de plantão. Estes especialistas tem apresentado como uma das soluções o aumento do efetivo policial, principalmente o militar, como forma de devolver à sociedade, aquela sensação de segurança que foi perdida. Seria algo como colocar um policial militar em cada esquina, em cada empresa, em cada residência, medida totalmente descabida, por ser impraticável . Mais que apresentar soluções, é preciso entender como chegamos a este ponto.


Na primeira metade da década de 60, teve inicio no país, mais um período de ditadura. Assim, como as anteriores, esta precisava de mecanismos que garantissem sua permanência no poder. Mais uma vez, as polícias tiveram papel de destaque. Mudou-se o enfoque de sua missão, passando a agir como policia política e não mais como policia de segurança pública. Apartir daí os investimentos, tanto em equipamentos, como em material humano foram direcionados para a segurança do estado e não do cidadão. Delegacias da Polícia Civil passaram a funcionar como células de repressão, equipes de polícias, chefiadas por delegados, passaram a investigar os subversivos. Pelo lado da Polícia Militar, implantou-se a guerra ideológica, policias militares eram treinados em contra-guerrilha, em guerra na selva, e tantas outros treinamentos desta natureza. Os equipamentos adquiridos para as forças policiais, eram para serem aplicados na defesa do estado e não na defesa da sociedade. O objetivo era reprimir e capturar os chamados "subversivos". Uma vez preso os subversivos, estes eram trancafiados em prisões comuns, compartilhando o seu espaço com os chamados bandidos comuns, criando uma mistura explosiva aonde as experiências eram trocadas, permitindo que bandos de criminosos se organizassem.


Em fins da década de 70 e inicio da de 80 aconteceu o que se chamou de abertura política. Os presos políticos cassados pela ditadura começaram a voltar ao país. Com as eleições, muitos destes foram eleitos e começaram a ocupar suas cadeiras nas casas legislativas. O foco agora era um estado aberto, sem repressão, com garantias e direitos. Diante disto, foram adotadas várias leis que visavam exatamente garantir os direitos, não só daqueles que foram perseguidos, mas de toda a sociedade. Porém, como faltava a prática democrática, muitos equívocos foram praticados. Criou-se garantias que foram estendidas aos que não precisavam e não podiam tê-las, ou seja, os presos comuns. Também, houve uma séries de ações que visavam identificar e punir os responsáveis pelos excessos cometidos. Ai os que ainda estavam no poder tinham que se proteger, e foi feito. Novamente garantias foram criadas para proteger pessoas ou grupos específicos e acabaram contemplando a todos indistintamente, tal qual a famosa lei Fleury, para evitar que um dos expoentes da repressão política fosse parar atrás das grades. Por outro lado, os governantes com medo de serem taxados de reacionários, passaram a não mais ver com bons olhos investimentos nas instituições policiais. Não era de bom tom defender investimentos em melhoria nas polícias, não dava votos. Duas décadas se passaram, e o estado diminuiu sua presença na garantia da segurança dos cidadãos. Recolheu seu aparato repressor, mas esqueceu de aprimorar a defesa dos cidadãos. Por outro lado, os criminosos se fortaleceram. No meio disto tudo ficou a sociedade indefesa.


Assim passamos mais duas décadas e chegamos ao terceiro milênio. Temos que correr atrás do prejuízo. Por muito tempo, investir em segurança pública representava simplesmente a compra de viaturas, tanto para a Polícia Civil como para a Polícia Militar. A Polícia Civil, por ser investigativa necessitava de investimentos na área de investigações, e nada ou quase nada foi feito. Até hoje não temos um banco de dados nacional para a consulta de digitais, quem dirá de DNA. A Polícia Militar por ser preventiva necessitava de investimentos na área de relacionamento com a comunidade, pois é a comunidade que detém as informações necessárias para a execução eficaz do policiamento. Porém, por razões que a própria razão desconhece (ou não!), optou-se por realizar investimentos naquilo que fosse visto, ou seja as viaturas. A Polícia Civil não pode investigar com viaturas caracterizadas, que são facilmente identificáveis. A Polícia Militar por sua vez, passou a executar quase que ex clusivamente o policiamento motorizado. Com isto o PM se afastou do cidadão comum. Quando anteriormente, o policial andava a pé e conversava com aqueles que deveria proteger, funcionava uma parceria de resultados, aonde o PM recebia informações e em troca prestava segurança. No novo modelo que surgiu, o PM apenas circulava de viatura. Não conhecia mais aqueles que deveria proteger e nem por estes era conhecido. Acabou a troca de informações e a sensação de segurança foi embora.


A viatura tem a vantagem de cobrir uma maior área em menor tempo, mais apresenta uma grande desvantagem que é o distanciamento entre policia e cidadão. A viatura é excelente como apoio, tanto para conduzir o policial militar para o local a ser policiado como para dar a devida cobertura a estes policiais.


Na outra ponta do problema esta o sistema prisional. Relegado a último plano. Os presídios são insuficientes, por isto superlotados. Superlotados, não sociabilizam ninguém. E, o preso acaba por sair pior do que quando entrou. Os presídios se tornaram depósitos de presos e não centros de recuperação.


Hoje no terceiro milênio, a insegurança bateu a nossa porta. Todos pedem mais policiamento, todos querem ter um policial por perto. È uma triste ilusão. A presença do policial impede o cometimento do ato criminoso naquele momento. Porem, o criminoso vai escolher outro momento e outra vítima. O policiamento preventivo funciona para aquele momento, e funciona muito bem. O policiamento preventivo é fundamental, pois partimos do principio que já existe um criminoso formado e vítimas em potencial prontas para serem atacadas. A função do policiamento preventivo é evitar que o fato criminoso se consuma no local e horário atendido, mas como a polícia não pode cobrir todos os cantos das cidades 24 horas por dia, faz-se a escolha de aplicar o policiamento nos horários e locais mais vulneráveis. Assim, as pessoas continuam pedindo mais policiamento e se esquecem de que o problema é mais complexo. É como ter que matar um dragão todo dia. Você mata o de hoje, mas sabe que amanhã vai ter outro, e para resolver a situação, é preciso atacar o ninho de onde estão saindo estes dragões. Assim o comerciante que faz passeata e pede por mais policiais nas ruas do centro comercial, se esquece de que ao chegar em casa pode descobrir que a sua família foi vítima de um crime. Por isto, aprimorar o treinamento e melhorar os equipamentos a disposição das policias é uma medida das mais urgentes e necessárias, mas é paleativa. É necessária, mas não é a única. E, ser for a única solução apresentada pelos governantes, será ineficaz, pois não existe um único remédio capaz de curar todos os males. Devemos lembrar sempre que a policia atua na conseqüência, a causa deve ser combatida por toda a sociedade. As causas da criminalidade residem basicamente na impunidade e nas questões sociais.

Paulo Roberto Bornhofen é Tenente-Coronel da Polícia Militar de Santa Catarina"

ACORDO DE RESULTADOS – 30 MOEDAS

Publico o texto abaixo, atendendo solicitação do amigo, Delegado de Polícia e Professor Dr. Rodney Malveira.

Segue o texto:


Difícil escrever ou falar sobre um acordo que me inclui e do qual não participei.


Entretanto, apesar disso, sofro os seus efeitos e, uma vez que, querendo ou não, estou nele incluído, sendo parte dele, posso manifestar minhas impressões, sem correr o risco de estar ferindo suscetibilidades, criticando esse ou aquele, simplesmente porque sou parte.

Por ser parte, cumpre-me denunciar o acordo em seu ponto principal, qual seja, a integração das polícias, porque é certo que estamos sendo invadidos em nossas atribuições e a cada dia que passa essa dita integração está nos desintegrando.

Não pretendo ser e não sou arauto do pessimismo. Não torço para que as coisas dêem errado. Exijo respeito, só isso.

Para aqueles que já participaram das reuniões do IGESP é que falo, porque puderam ver como a Polícia Civil é tratada, bastando lembrar as diversas vezes em que a PM utilizou ardis, como se tem notícia, ocupando quase todo o tempo disponível e chegando ao cúmulo de boicotar nossos dados nas apresentações conjuntas.

Bom, isso não ocorre só nas reuniões do IGESP, pois é já bem normal o desrespeito sistemático da PM às nossas atribuições constitucionais, sendo inclusive tolerado e corroborado por diversos integrantes do MP e do Judiciário.


Dessa forma, como o que se firmou foi um acordo entre o governo e os órgãos que integram a SEDS (PC/PM/BM/SUAPI) e esse acordo, que é um contrato, está sendo descumprido por uma das partes, com frontal e sucessivo desrespeito, nem é preciso ser especialista em Direito Contratual para saber que cabe aqui a resolução dessa avença.

Ademais, o que se recebe por esse dito acordo que nos foi impingido e nos está arruinando, é muito pouco. Estamos sendo no mínimo hipócritas, aceitando nos reunir e festejar com aqueles que seguem procurando nos destruir e nos desmerecer, para receber, uma vez no ano, 80% (trinta moedas) de um salário que nem mesmo nos 100 % atende às nossas necessidades.

Para comprovar o descumprimento do acordo nem é preciso ir longe, basta ver como têm agido nossos “companheiros de farda” nesse momento de implantação das 40 horas semanais (que eles já cumprem há bastante tempo), ao fazerem lobby em cima de promotores e juízes para que peçam e concedam as liminares em ACP, visando desarticular nosso lícito movimento.

Poderia ficar recordando as inúmeras agressões funcionais que sofremos por parte dos nossos “companheiros de farda”, mas não pretendo acirrar ódios, nem semear discórdia, pois na verdade quero chamar atenção dos colegas para que reflitam muito se vale à pena nos reunirmos teatralmente com aqueles que têm nos causado mal, pra no final, depois de mostrarmos nossos numerosinhos burocráticos, recebermos aqueles 80% (trinta moedas)do salário que servem apenas para nos tirar do cheque especial por um ou dois meses.

Além do mais, se não for bastante o argumento acima exposto, constatamos indignados que a qualidade de nosso serviço policial de nada está valendo, pois em todas essas reuniões que fui, só vi números, que, verdadeiros ou não, não expressam a real situação da Polícia Civil. A excelência de nosso trabalho, que é intelectual, não pode ser aferida apenas por números, que talvez sejam o bastante para demonstrar quantos boletins de ocorrência foram lavrados, quantos carros foram multados, quantas armas de fogo foram apreendidas, quantas pessoas foram presas, etc., mas não para demonstrar nos crimes que foram esclarecidos, qual foi a estratégia do delegado de polícia, quais foram as técnicas de investigação utilizadas, como se articularam os investigadores de polícia, de que forma os escrivães de polícia concorreram para a tomada de bons depoimentos, como atuaram nossos peritos e médicos legistas, etc. Enfim, números não mostram o nosso trabalho, que segue desvalorizado e nós mesmos somos culpados, porque aceitamos este acordo por 30 moedas.

Finalizando, como parte que sou do tal acordo, sugiro que o denunciemos, posto que só nos está prejudicando, e que tenhamos coragem e renunciemos todos nós Delegados de Polícia, às 30 moedas em nome da nossa dignidade.

Saudações.

Rodney Malveira da Silva
Delegado de Polícia

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O QUE É UM POLICIAL

Policiais são humanos (acredite se quiser!) como o resto de nós. Eles vêm em ambos os gêneros, mas na maioria das vezes são do sexo masculino. Eles também vêm em vários tamanhos. Na realidade, depende se você estiver à procura de um deles ou tentando esconder algo. Quase sempre, no entanto, eles são grandes.

Encontra-se policiais em todos os lugares: na terra, no mar, no ar, à cavalo, em viaturas, e até na sua cabeça. Independente do fato de “nunca se encontrar nenhum quando se quer um”, eles geralmente estão por perto quando mais se precisa deles. A melhor maneira de conseguir um é geralmente por telefone.

Policiais dão palestras, fazem partos, e entregam más notícias. Se exigi que eles tenham a sabedoria de Salomão, a disposição de um cavalo corredor e músculos de aço – muitas vezes são até acusados de terem o coração fundido no mesmo metal. O policial é aquele que engole a saliva a grandes penas, anuncia o falecimento de um ente querido e passa o resto do dia se perguntando porque, ó Deus, foi escolher esta porcaria de trabalho.

Na TV, o policial é um idiota que não conseguiria encontrar um elefante numa geladeira. Na vida real, se espera dele que ele encontre um menininho loiro “mais ou menos desta altura” numa multidão de quinhentas mil pessoas. Na ficção ele recebe ajuda de detetives particulares, repórteres e de testemunhas “eu sei quem foi”. Na vida real, quase tudo que ele recebe do povo é “eu não vi absolutamente nada”.

Quando ele dá uma ordem dura, ele é grosso. Se ele lhe soltar com uma palavra gentil, é uma mocinha. Para as crianças, ele é as vezes um amigo, outras um monstro, dependendo da opinião que têm seus pais a respeito da Polícia. Ele “vira a noite”, dobra escalas, e trabalha aos sábados, domingos e feriados; sempre o chateia muito quando um engraçadinho vem lhe dizer “epa, este fim de semana é Carnaval, estou à toa, vamos à praia”, esta é a época do ano em que eles trabalham vinte horas por dia.

O policial é como aquela menininha, que quando é boa, é muito, muito boa, mas quando é má, é abominável. Quando um policial é bom, ele “é pago para isso”. Quando comete um erro, “ele é um corrupto, e isso vale para todos os outros da raça dele”. Quando ele atira num assaltante, ele é um herói, exceto quando o assaltante é “apenas um garoto e qualquer um podia ver”.

Muitos têm casas, algumas cobertas de plantas, e quase todas cobertas de dívidas. Se ele dirigir um carro de luxo, ele é um ladrão. Se for um carro popular, “quem ele pensa que está enganando?” O crédito dele é bom, o que ajuda bastante porque o salário não é. Policiais educam muitos filhos, muitas vezes, os filhos dos outros.

Um policial vê mais sofrimento, sangue, problemas e alvoradas que uma pessoa comum. Como os carteiros, os policiais têm que estar trabalhando independente das condições do tempo. Seu uniforme muda de acordo com o clima, mas sua maneira de ver a vida permanece a mesma; na maioria das vezes, é entristecida, mas no fundo, esperando um mundo melhor.

Policiais gostam de folgas, férias e café. Eles não gostam de buzinas, brigas familiares, e principalmente, autores de cartas anônimas. Eles têm sindicatos e federações mas não gostam de fazer greve. Têm que ser imparciais, educados, e sempre devem lembrar do slogam “a seu serviço”. Às vezes é difícil, especialmente quando um indivíduo lhe lembra, “eu pago impostos, portanto pago seu salário”.

Policiais recebem elogios por salvar vidas, evitar distúrbios, e trocar tiros com bandidos (de vez em quando, sua viúva recebe o elogio!). Mas algumas vezes, o momento mais recompensador é quando, após fazer alguma gentileza a um cidadão, ele sente o caloroso aperto de mão, olha nos olhos cheios de gratidão e ouve, “obrigado e Deus te abençoe”.

Jucelino

PRF-RS (Polícia Rodoviária Federal - RS)

domingo, 12 de junho de 2011

Manifesto de Delegado em reunião do IGESP

O texto abaixo foi escrito pelo Dr. Amarantino, Delegado de Polícia na Delegacia Regional de Paracatu/MG. É um retrato da situação da Polícia Civil de Minas Gerais. Vale a leitura:

Bom dia senhores,

Embasado no Estado Democrático de Direito em que nos encontramos inseridos, sentimo-nos fortes e seguros para podermos manifestar nossa profunda insatisfação com a atual situação caótica vivida pela polícia civil mineira, mormente a classe a qual pertenço – Delegado de Polícia.

Na atual conjuntura das informações disponibilizadas na internet é fácil constatar que as penúrias de nossa instituição não é mais um fato pontual. Alastra-se por todo o território mineiro e o que se vê é falta de pessoal, estrutura física, condições de trabalho e uma dependência patente dos órgãos municipais para uma prestação de serviços cada vez mais ineficientes e insatisfatórios à população.

À luz do CPP, o que é a autoridade policial? A resposta não pode ser outra senão “um super-homem”. Em breve síntese é nossa missão, tão logo tomada ciência do delito: comparecer ao local da infração, apreender objetos, colher todas as provas pertinentes, ouvir o ofendido, ouvir o indiciado, proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e acareações, determinar exame de corpo de delito e outras pericias, identificar o indiciado, verificar sua vida pregressa e presidir todas diligências possíveis à busca da autoria e materialidade delitiva. Deve a Autoridade Policial ainda tomar todas as declarações dos envolvidos, ditando ao escrivão e assinar todas as peças, em cada Inquérito, em cada APFD, em cada TCO, em cada AFAI, em cada Diligência Preliminar, enfim, em todos, todos mesmos, os procedimentos pertinentes a investigação de crimes comuns.

Não bastasse isso, o estado de Minas impõe aos seus delegados centenas ou milhares dessas diligências de uma só vez. O que já é quase impossível quando se trata de poucas ocorrências, ganha ainda mais conotação de crueldade quando se junta a isso a falta de seus auxiliares em todos os níveis (investigadores, escrivães, peritos, médicos legistas e administrativos).

Agregado a isso junta-se as mais distintas tarefas como: ser também delegado a desempenhar funções administrativas do DETRAN; ser diretor de presídios e ter suas atribuições estendidas a outras comarcas, recebendo por isso, quase nada, ou por que não dizer, nada mesmo.

Com relação a essas reuniões impostas pelo IGESP da qual participamos agora, outro nome não merece senão uma fraude. Usando de eufemismo, diríamos, um teatro.

Senhores, desses dados que acabei de apresentar, muito pouco eu sei. Pra ser mais realista recebi na tarde de ontem, um calhamaço para estudar e apresentar nessa manhã – claro que não tive tempo. Quem o fez foi uma colega escrivã, que na verdade é uma investigadora de polícia, desviada atualmente da função para qual prestou concurso e que nos seus finais de semana quando deveria estar de folga, cumpre uma escala de plantão para ajudar outra colega escrivã que muito provavelmente não dará conta de absorver todo o serviço alocado para nossa regional. Onde funciona a central de flagrantes.

Sinceramente com tantas atribuições, não temos tempo para mais essa lúdica tarefa. Não temos sequer homens para agrupar dados. Na maioria das vezes o que se vê aqui é uma maquiagem mal engendrada em que cada vez, mais e mais, somos obrigados a pactuar metas que no fundo sabemos impossíveis de serem cumpridas com os parcos recursos que temos.

Pacto significa acordo de vontades. Não tenho vontade de pactuar minha morte lenta. É... morte lenta sim. Morremos mais aceleradamente a cada dia na polícia mineira. Não dá pra desligar de um trabalho, do qual não nos afastamos nunca. São plantões e permanências que beiram a desumanidade. Recebendo o terceiro pior salário do Brasil e ainda sem ganhar nenhum adicional sobre essas árduas jornadas.

Hoje me pergunto: Será que estaríamos satisfeitos se o Governo nos desse de uma só vez 97% de aumento? A resposta me vem rapidamente: claro que não. Não queremos só dinheiro. Queremos colegas trabalhando ao nosso lado para dividir responsabilidades e podermos desempenhar nossa tarefa institucional. O que faria com um belo salário se, na verdade, remanesceria a falta de efetivo para poder elucidar crimes? Queremos na verdade dignidade.

Hoje a imposição – de cima para baixo – da integração das polícias é impossível de ser engolida por qualquer policial civil da base. A co-irmã polícia militar, não menos sofrida que nós, mas melhor estruturada, vem abarcando pouco a pouco nossas atribuições sem que nós lutemos por nossas prerrogativas. Talvez, até por reconhecermos que não temos condições de exercê-las por pura falta de mão de obra, meios e por óbvio motivação.

É cediço que em algumas cidades mineiras há mais policiais militares trabalhando à paisana investigando crimes do que investigadores da polícia civil. Isso, claro, entendemos é uma inversão de valores e uma tentativa ilegítima de fazer segurança pública pelo viés errado.

Fazendo uma analogia simples, seria como se o Juiz pudesse ofertar a denúncia pelo simples fato de não haver Promotor na cidade, ou vice-versa, o Ministério Público aplicar sanção, face a inércia do Magistrado.

A polícia militar mineira vem cometendo algumas aberrações jurídicas de representar por busca e apreensão, interceptação telefônica e até mesmo prisões cautelares. Atribuições privativas de Autoridade Policial (o Delegado) e do Ministério Público. Tudo isso com a tolerância cada vez mais crescente do judiciário e do parquet que argúem: “Se a polícia civil não faz, alguém tem que fazer”. Por óbvio, com o dispomos, jamais conseguiremos desempenhar o papel de polícia judiciária. Investigando crimes não elucidados no imediatismo dos flagrantes e possibilitando um inquérito, no mínimo, decente a supedanear uma condenação e consequentemente a retirada dos criminosos contumazes das ruas.

Hoje a visão que a sociedade mineira parece ter é a de que a prisão em flagrante é rainha das provas. Ora, operadores do direito – sabemos que isso nunca foi verdade. Ainda mais com o Estado garantista instalado na CF/88. Para corroborar isso basta tomar ciência da nova reforma no CPP, no que tange às prisões cautelares, trazida pela nova lei 12.403/11.

Ela vem ratificar a idéia de que investiga-se para prender, e não, prende-se para investigar, como acontece hoje com o fortalecimento da estrutura da polícia militar em detrimento da polícia civil.

Mas nos perguntamos: já imaginou se os magistrados resolvessem conceder somente à polícia civil o que já lhe é privativo na própria Constituição? Com certeza, um caos maior ainda. Se já não damos conta do elementar, quiçá daríamos conta de requerer e cumprir todas essas cautelares cada vez mais usurpadas pela Polícia Militar.

Em síntese, estamos pedindo socorro. O movimento começado nos últimos dias é irreversível. Juntos podemos gritar mais alto. Temos que ser ouvidos por alguém.

Como numa relação entre pai e filho, no qual a lei impõe àquele o dever de cuidar, mas nunca o de amar – nem todos nós estamos vestindo a camisa do Estado. Não por falta de caráter, mas por falta de respeito e dignidade.

A polícia civil ao longo dos anos foi quase que escravizada e obrigada a fazer mágica para cumprir metas utópicas e ouvir o Governo de Minas dizer com orgulho que tem uma das melhores polícias do Brasil. Não é verdade. Tudo que foi feito até hoje foi com sangue e suor de seus heróicos servidores.

Chegou a hora de, com respeito e propriedade a polícia civil dizer: Não estamos satisfeitos. Não temos condições de pactuarmos metas maiores, ao contrário disso, vimos a público dizer que desejamos pactuar metas muito menores, condizentes e proporcionais aos recursos que temos e ao salário que recebemos.

Somos policiais sim, mas antes de tudo somos seres humanos – nesse momento, incapazes de cumprirmos nossas nobres tarefas.

Gostaria que esse manifesto fosse constado em Ata e também levado a quem, do Estado, tem o dever de ouvir nossas manifestações, as quais doravante nem sempre serão só de “META CUMPRIDA”.