sábado, 20 de agosto de 2011

Há derrotas e derrotas - e vice-versa

Achei este texto fantástico, síntese do sofrimento atleticano.
Há derrotas e derrotas - e vice-versa

Fred Melo Paiva

Publicação: 20/08/2011 04:00


>>esportes.em@uai.com.br

Escrevo esta coluna tão desanimado da vida, tão desesperançado de tudo, que cogitei ligar para o Cuca e ver se ele não tinha uma caixa de Prozac sobrando. Estou mais para baixo do que bolsa de valores, mais caído do que os ministros da Dilma. Fui tomado de um pessimismo tão avassalador, mas tão avassalador, que ficou impossível afogar as minhas mágoas: só consigo enxergar a metade vazia do copo.

Há derrotas e derrotas – e vice-versa. Algumas delas são insossas, sonolentas, e é preciso ficar de pé diante da TV ou colocar dois palitos nos olhos, senão você dorme. Foi assim contra o Botafogo, na estreia da Copa Sul-Americana, quando perdemos por 2 a 1. É tão rotineiro e entediante perder para o Botafogo, que o jogo foi outro dia, mas tive de ir ao Google lembrar a história dessa última peleja.

Há derrotas, porém, de outros tipos. Como aquelas em que merecíamos vencer e fomos injustamente garfados pelo juiz ou pela falta de sorte. Aconteceu recentemente contra o Grêmio (foi um empate) e contra o Palmeiras. Em tempos idos nem se fala – desde o Brasileiro de 1980, esta sempre foi a modalidade por excelência das nossas derrotas. Para voltarmos ao Botafogo, essa pedra na chuteira, lembremos a eliminação da Copa do Brasil em 2007 – 2 a 1 para o Carlos Eugênio Simon.

(Hoje enfrentaremos o Botafogo pelo Brasileiro. Terça-feira, de novo, pela Sul-Americana. Ambos os jogos são fora de casa. Vou chutar o placar: WO e WO – alguém terá tido a ideia de ficarmos por aqui mesmo, poupando umas milhas e a nosotros de ver em campo o Atlético mais ridículo de todos em tempos).

Foi só um parêntese. Na falta do Prozac, concentremo-nos em derrotas já ocorridas: não há tipo pior do que a de quarta-feira diante do Corinthians. Odeio o Corinthians. Como vivo em São Paulo, o Corinthians é o meu Cruzeiro. Já terminei um casamento por causa do Corinthians. Agora, sonegarei impostos para que no futuro, quando alguém disser que o Itaquerão foi construído com o nosso dinheiro, eu possa esclarecer: “Com o meu, não. Só se foi com o seu”.

A derrota de quarta não foi insossa nem injusta. Foi vexaminosa, ridícula, 90 minutos de pastelão para o Brasil inteiro assistir. Com uma cereja que não sei se fez parte do bolo na transmissão para Belo Horizonte: o comentarista de arbitragem da Globo era o José Roberto Wright. Só pode ser uma brincadeira. A Globo poderia chamar o Simon para os jogos contra o Botafogo. E o José de Assis Aragão quando formos enfrentar o Flamengo. Se bem que este eu não sei se está vivo ou já se encontra no inferno. (Ops, o Google informa: está vivinho da Silva, acusado de corrupção em duas das quatro primeiras entradas do site, ele e a sua consorte).

Quando o Atlético perde do jeito que perdeu, desejo verdadeiramente me livrar dessa doença que é ser atleticano. Se pudesse, estaria ocupando a cabeça, sei lá, com pensamentos sobre a versatilidade da presidente Dilma – ao mesmo tempo gerente e faxineira. Mas não consigo: o atleticano é perseguido pelo Atlético. É como se o Réver, com seu único neurônio, estivesse sempre no seu encalço.