Andre Pelli
quarta-feira, 23 de maio de 2012
“Se nós juntássemos todas as pedras fundamentais de lançamentos de autódromo em Minas, já teríamos construído a pista.” A frase é de um dos mais destacados pilotos do estado, Toninho da Matta, e espelha a dificuldade para tirar do papel os vários projetos e dotar o esporte mineiro de um espaço apto a receber categorias internacionais e à altura da tradição de nossos representantes em categorias nacionais e internacionais. Não faltaram circuitos de Primeiro Mundo, instalações de cair o queixo, com um problema: nunca deixaram as telas dos computadores para se tornar realidade.
Um cenário que pode mudar graças a um grupo de aficionados que aprendeu com os erros do passado e pretende ocupar uma lacuna que hoje não é apenas regional. Falta, no Brasil, um complexo com homologação das federações internacionais de Automobilismo (FIA) e Motociclismo (FIM), em condições de receber provas das Superbikes, da Moto GP e que seja alternativa a Interlagos.
Sem grande publicidade, mas um intenso trabalho de bastidores que inclui o estudo dos projetos de circuitos como Sakhir, no Barein, Portimão, em Portugal, Buddh, na Índia, e Dubai, os integrantes do Moto Clube 273 identificaram em Curvelo, Região Central do estado, a 170 quilômetros de Belo Horizonte, o local ideal para a construção de um empreendimento do gênero e as condições adequadas para tirá-lo do papel: um terreno de dois milhões de metros quadrados (o dobro da área do oval de Indianápolis), no quilômetro 608 da BR-135, que liga a capital a Montes Claros e à Bahia. Uma propriedade particular (de um empresário interessado em participar da iniciativa) que respeita todo o tipo de exigência ambiental e permite sonhar longe, já que acolheria, sem dificuldades, um circuito misto, um oval, pistas de kart e motocross, além de um polo industrial, hoteis, condomínio, arena para shows e exposições e mesmo quadras esportivas, escolas e hospitais.
Aí reside o grande diferencial do projeto em relação aos anteriores: se não faltam ideias para dotar a região de um espaço único no país, a ideia é começar de forma modesta e proporcionar um efeito “bola de neve”, com as etapas se sucedendo e novos investidores e parceiros se agregando. De acordo com os primeiros estudos, bastariam R$ 15 milhões (pouco mais de 10% do que foi gasto na reformulação do Estádio Independência, por exemplo) para ter o circuito misto em condição de receber corridas e uma pista de motocross também homologada. Uma estrutura que poderia ser aproveitada também com cursos de pilotagem e eventos de montadoras.
Como todos as precauções estão sendo tomadas para que o projeto se concretize, ainda não há um traçado desenhado, mas até neste aspecto a iniciativa traz uma inovação. A ideia é ouvir opiniões de pilotos e ex-pilotos – um grupo deles, entre os quais Rafa Matos, Clemente Jr. e o campeão de motocross Jorge Balbi Jr. deve visitar o terreno sexta-feira para opinar e sugerir. A missão de dar formas ao sonho será do arquiteto Humberto Anastasia, apaixonado por automobilismo, respeitando os cadernos de encargos da FIA e da FIM.
PROTOCOLO “Há uma grande demanda por um empreendimento do gênero em Minas e Curvelo acolheu a ideia de braços abertos. O único obstáculo ao sucesso da iniciativa seria a economia brasileira entrar em um momento negativo a médio prazo, algo bastante improvável, já que o país é a bola da vez no cenário internacional. Procuramos estudar o que se fez de melhor pelo mundo, temos uma localização geográfica privilegiada e um terreno que nos permite trabalhar sem restrições e expandir o complexo o quanto quisermos. Mesmo sem divulgá-lo oficialmente, fomos procurados por várias empresas e investidores que enxergaram o potencial e querem conversar. Agora que os primeiros passos foram dados, a tendência é o interesse se multiplicar e rapidamente as etapas se sucederem”, explica o presidente do Moto Clube 273, Flávio Bergmann, que agrega sua experiência na assessoria de imprensa e cobertura dos principais campeonatos brasileiros sobre duas e quatro rodas.
Na sexta-feira ele assinou um protocolo de intenções com a prefeitura, que se compromete a incentivar e dar sua chancela ao projeto, com impacto estimado em 500 mil pessoas da cidade e dos municípios do entorno. As verbas públicas diretas, no entanto, serão minoria no financiamento das obras, já que o Moto Clube se valerá da Lei Federal de Incentivo ao Esporte para captar recursos. “Não queremos que o poder público gaste um centavo, mas conceda incentivos fiscais ao empreendimento e às empresas que aqui se instalarem, além de colaborar dentro de suas possibilidades.”
MEMÓRIA
Tudo começou em 1949
Se foi necessário esperar até o começo da década passada para que o estado ganhasse seu primeiro autódromo permanente, o Mega Space, em Santa Luzia – que foi inaugurado com um traçado de 1.600m e vai ganhar nos próximos meses uma expansão, passando para 2.450m –as provas de pista no estado são realidade desde muito antes. Em pleno auge da era JK, a então recém-inaugurada Lagoa da Pampulha serviu de cenário para uma corrida que trouxe a Belo Horizonte alguns dos principais pilotos do país na época e foi vencida por Chico Landi, com uma Maserati. Octacílio Rocha não teve a mesma sorte e morreu ao se chocar com um poste. Outra obra na região deu origem a um circuito provisório: de 1967 a 1972 o entorno do Mineirão foi palco de provas que reuniram, entre outros, Emerson e Wilsinho Fittipaldi, Alex Dias Ribeiro, Luís Pereira Bueno, Kid Cabeleira, Toninho e Ivaldo da Matta, em carros de turismo e protótipos. Um dos mais talentosos nomes daquela geração, Marcelo Campos morreu na véspera do GP de 1970, quando testava modificações em seu Puma e bateu numa picape
sábado, 12 de novembro de 2011
O cruzeirense não se acha... Ele se tem certeza.
Fred Melo Paiva
arquibancada.em@uai.com.br
Publicação: 12/11/2011 04:00
Mas eu ia dizendo que outro dia então cometi esse negócio de entrar num site do Cruzeiro, e lá estava uma torcedora com um cartaz nas mãos: “Tá bom, eu já entendi o que é ser atleticano. Agora vamos reagir”. Considerei o texto razoável, a vírgula correta e a ideia criativa. Ao contrário do que já se disse sobre Andrés Sanches, pensei: aquela ali devia ter completado o Mobral. E lembrei o meu amigo Kiko, outrora um galanteador, que ao ser apresentado a mulheres cruzeirenses procurava evitar constrangimentos lançando mão de uma tese, salvo engano, cunhada por ele próprio: “Não se preocupe, querida, há uma regra que diz: ‘Toda mulher é cruzeirense, todo cruzeirense é mulher’”. Ótima tese, mesmo correspondendo a uma meia verdade.
Eu poderia ter ficado com raiva da menina do cartaz. Poderia atingi-la com golpes abaixo da cintura, bastando que eu citasse a própria inexistência dessa sua parte do corpo, recauchutada por uns pneuzinhos de SUV. Poderia atacá-la, mesmo vendo pela foto que teria de enfrentar um canhão. Talvez, apenas para matá-la de inveja, eu afinasse. Mas veja como a tabela do campeonato amolece o coração da gente: eu fiquei com pena da menina do cartaz. Uma pena genuína, que quase me faz obrar um daqueles textos-poemas que a crônica esportiva de vez em quando comete: “Ó, menina do cartaz, quem é você? O que te apraz? Uma frase benfeita? Alguma coisa por trás?” Ainda bem que resisti à tentação.
A menina do cartaz diz que já sabe o que é ser atleticano. Coitada: ela certamente entende mais de física nuclear. Se tivesse compreendido um pouco do que é ser atleticano, tratava de repensar a soberba que tanto caracteriza o torcedor do Barcelona das Américas (o catalão que, ele deve pensar, dá nome à avenida). O cruzeirense é aquele tipo muito bem definido pelo Juca Kfouri: ele não se acha – ele se tem certeza.
Ao contrário da menina do cartaz, o Cuca entendeu rapidamente a diferença entre o atleticano e o cruzeirense. E se identificou com a massa. Porque, a exemplo do atleticano, o Cuca é simples: não inventa, escala o que tem de melhor e ponto. Depois de Vanderlei Luxemburgo – o maior erro de Alexandre Kalil e da própria torcida – e de Dorival Júnior, o Atlético parece agora ter um técnico pra valer. Se o Kalil vencer as próximas eleições, tem de fazer como o Cuca: não inventar. Tem de manter uma base, parar de mudar tudo a cada fim de ano. E trazer o Tardelli, pelo amor de Deus.
Restam quatro pontos para o Galo escapar do rebaixamento. Vamos na raça, na força da torcida e na humildade – justamente aquilo que falta à concorrência.
sábado, 5 de novembro de 2011
FANÁTICOS ATLETICANOS (JORNAL EM - 05/11/2011)
Penhora a sede, Kalil, mas traz o Tardelli
Publicação: 05/11/2011 04:00
Vejo agora na ESPN o Kalil dizendo que dom Diego não vem: “As chances são zero. O Anzhi está pedindo muito alto, mais ou menos o que pagaram ao Atlético”. Uai, mas não foi outro dia mesmo que nós vendemos o cara? Para com isso, Kalil. O Tardelli não é carro novo, que você tira da concessionária e vale 30% menos no dia seguinte.
Como assim, as chances são zero? Penhora a sede, vende a praça de alimentação do Diamond Mall, o estacionamento, as salas de cinema. Oferece para os russos uma base de lançamento de mísseis na Cidade do Galo, para o caso de voltar a Guerra Fria. Cria um 0800, que o atleticano doa o 13º, as cuecas e até a própria mãe. Telefona para o Ricardo Guimarães, para o Constantino Júnior, para o Rubens Menin – todos atleticanos bilionários, para quem um Tardelli a mais ou um Tardelli a menos não vai fazer diferença no balanço. Sei lá, Kalil, faz qualquer coisa, mas acerta logo esse negócio. Até porque vejo aqui no Twitter que Palmeiras, Flamengo e Corinthians já manifestaram interesse em dom Diego. Se vejo o Tardelli com a camisa de outro time, vou ter de dar uma suicidada.
O Tardelli precisa do Atlético e o Atlético precisa do Tardelli. Não se trata somente de voltar a fazer gols. Um grande clube precisa de um grande ídolo e não apenas do melhor CT do Brasil. Eu não posso mais chutar bola com meu filho pequeno e dizer que ele é o Neto Berola. O Atlético tem de pensar em Diego Tardelli como o Santos pensou no Neymar. Temos de oferecer a ele um projeto que inclua a construção duradoura da sua marca. Temos de oferecer a ele ferramentas de marketing capazes de transformá-lo num ídolo da estatura do Reinaldo. Temos de recebê-lo num Mineirinho lotado, com uma linda festa. Temos de fazer bonecos do Tardelli, vender camisas exclusivas, incluí-lo nos principais eventos da cidade, assessorá-lo com as melhores cabeças.
Dentro de campo, é preciso fazer de tudo para proporcionar a ele o sonho de jogar a Copa de 2014 – o Atlético com Tardelli precisa jogar em função do Tardelli, para que ele faça gols, mas também para que seja o ídolo de que necessitamos. Temos de oferecer a ele um projeto de vida no clube para quando parar de jogar futebol. Como, aliás, temos de fazer com todos os ídolos do passado. É assim que se constroem as novas gerações de torcedores – é assim que a gente vai renovar a mística da camisa branca e preta pendurada no varal etc. etc.
Se o Tardelli for jogar no Corinthians ou no Palmeiras, será apenas mais um bom atacante jogando em um grande clube. Só no Atlético ele tem a chance de se transformar em Reinaldo, Sócrates, Zico, Dinamite, Pelé. Isso não tem preço.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
VAMOS TER QUE ESTOCAR COMIDA EM MG - Prof. Flaviane
(http://lattes.cnpq.br/1159840059123495) sobre a Resolução Conjunta
148/2011.
Vou usar a frase do prof. Lenio, VAMOS TER QUE ESTOCAR COMIDA EM MINAS GERAIS!!!
A Resolução Conjunta entre a Polícia Civil e Militar de Minas Gerais assinada pelo Secretário de Estado de Defesa Social é um absurdo!
O secretário de estado diz que a Polícia Civil trabalha com efetivo reduzido, que as comarcas são distantes e que a PM não pode se afastar do local do policiamento para fazer os flagrantes, então, aos finais de semana e após as 18:30 se transfere ao policial militar a discricionariedade de dizer quais são os crimes que devem ser efetivados os flagrantes e quais ele lavrará o BO com o compromisso da vítima, agente da conduta e testemunhas de irem à delegacia no próximo
dia útil! Serão os policiais que fazem o policiamento ostensivo que decidirão qual conduta se amolda a um tipo penal de pena até 4 anos, quais são com violência ou grave ameaça, quais afetam a ordem pública.
Abrimos mão do estado direito em Minas e adotamos o estado de Polícia.
Nem na ditadura militar se dava tal discricionariedade ao efetivo do policiamento ostensivo. Agora abrimos mão da polícia judiciária, do MP e do Juiz. E os que forem presos porque não se enquadram na exceção, aí a PM vai prende-los e eles vão ficar esquecidos no plantão até o primeiro dia útil.
Onde está o MP, que tem atribuição constitucional de realizar o controle externo da policia?
Onde fica a garantia de ser imediatamente comunicada as prisões aos juízes?
Onde estão a OAB e os advogados que não protestam contra isto?
Vou ter que concordar com o Prof. Lenio novamente, a possibilidade do delegado arbitrar a fiança até 4 anos, em que pese a noção de proibição de excesso, será o início do fim da lei 12.403/2011 e precisa ser declarada inconstitucional nesta parte. Aqui em Minas ela permite esta barbaridade, como não tem delegado suficiente a policia militar fará as suas vezes.
Termino lembrando Pedro Aleixo, vice-presidente da Republica, e sua famosa frase: quem vai cuidar do guarda da esquina?
Um abraço a todos e comecem a estocar comida, refugiem-se em suas casa nos horários em que a Polícia Civil não tem contingente suficiente.
sábado, 20 de agosto de 2011
Há derrotas e derrotas - e vice-versa
Há derrotas e derrotas - e vice-versa
Fred Melo Paiva
Publicação: 20/08/2011 04:00
>>esportes.em@uai.com.br
Escrevo esta coluna tão desanimado da vida, tão desesperançado de tudo, que cogitei ligar para o Cuca e ver se ele não tinha uma caixa de Prozac sobrando. Estou mais para baixo do que bolsa de valores, mais caído do que os ministros da Dilma. Fui tomado de um pessimismo tão avassalador, mas tão avassalador, que ficou impossível afogar as minhas mágoas: só consigo enxergar a metade vazia do copo.
Há derrotas e derrotas – e vice-versa. Algumas delas são insossas, sonolentas, e é preciso ficar de pé diante da TV ou colocar dois palitos nos olhos, senão você dorme. Foi assim contra o Botafogo, na estreia da Copa Sul-Americana, quando perdemos por 2 a 1. É tão rotineiro e entediante perder para o Botafogo, que o jogo foi outro dia, mas tive de ir ao Google lembrar a história dessa última peleja.
Há derrotas, porém, de outros tipos. Como aquelas em que merecíamos vencer e fomos injustamente garfados pelo juiz ou pela falta de sorte. Aconteceu recentemente contra o Grêmio (foi um empate) e contra o Palmeiras. Em tempos idos nem se fala – desde o Brasileiro de 1980, esta sempre foi a modalidade por excelência das nossas derrotas. Para voltarmos ao Botafogo, essa pedra na chuteira, lembremos a eliminação da Copa do Brasil em 2007 – 2 a 1 para o Carlos Eugênio Simon.
(Hoje enfrentaremos o Botafogo pelo Brasileiro. Terça-feira, de novo, pela Sul-Americana. Ambos os jogos são fora de casa. Vou chutar o placar: WO e WO – alguém terá tido a ideia de ficarmos por aqui mesmo, poupando umas milhas e a nosotros de ver em campo o Atlético mais ridículo de todos em tempos).
Foi só um parêntese. Na falta do Prozac, concentremo-nos em derrotas já ocorridas: não há tipo pior do que a de quarta-feira diante do Corinthians. Odeio o Corinthians. Como vivo em São Paulo, o Corinthians é o meu Cruzeiro. Já terminei um casamento por causa do Corinthians. Agora, sonegarei impostos para que no futuro, quando alguém disser que o Itaquerão foi construído com o nosso dinheiro, eu possa esclarecer: “Com o meu, não. Só se foi com o seu”.
A derrota de quarta não foi insossa nem injusta. Foi vexaminosa, ridícula, 90 minutos de pastelão para o Brasil inteiro assistir. Com uma cereja que não sei se fez parte do bolo na transmissão para Belo Horizonte: o comentarista de arbitragem da Globo era o José Roberto Wright. Só pode ser uma brincadeira. A Globo poderia chamar o Simon para os jogos contra o Botafogo. E o José de Assis Aragão quando formos enfrentar o Flamengo. Se bem que este eu não sei se está vivo ou já se encontra no inferno. (Ops, o Google informa: está vivinho da Silva, acusado de corrupção em duas das quatro primeiras entradas do site, ele e a sua consorte).
Quando o Atlético perde do jeito que perdeu, desejo verdadeiramente me livrar dessa doença que é ser atleticano. Se pudesse, estaria ocupando a cabeça, sei lá, com pensamentos sobre a versatilidade da presidente Dilma – ao mesmo tempo gerente e faxineira. Mas não consigo: o atleticano é perseguido pelo Atlético. É como se o Réver, com seu único neurônio, estivesse sempre no seu encalço.
domingo, 31 de julho de 2011
SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL - QUATRO DÉCADAS DE EQUÍVOCOS
O Artigo abaixo foi escrito em 2002 pelo Tenente-Coronel PAULO ROBERTO BORNHOFEN da Polícia Militar de Santa Catarina. Excelente!
Segue o texto:
A Segurança Pública se tornou um tema tão popular como o futebol e a economia. Assim como o futebol e a economia, quando aparece uma crise, também, aparecem os especialistas de plantão. Estes especialistas tem apresentado como uma das soluções o aumento do efetivo policial, principalmente o militar, como forma de devolver à sociedade, aquela sensação de segurança que foi perdida. Seria algo como colocar um policial militar em cada esquina, em cada empresa, em cada residência, medida totalmente descabida, por ser impraticável . Mais que apresentar soluções, é preciso entender como chegamos a este ponto.
Na primeira metade da década de 60, teve inicio no país, mais um período de ditadura. Assim, como as anteriores, esta precisava de mecanismos que garantissem sua permanência no poder. Mais uma vez, as polícias tiveram papel de destaque. Mudou-se o enfoque de sua missão, passando a agir como policia política e não mais como policia de segurança pública. Apartir daí os investimentos, tanto em equipamentos, como em material humano foram direcionados para a segurança do estado e não do cidadão. Delegacias da Polícia Civil passaram a funcionar como células de repressão, equipes de polícias, chefiadas por delegados, passaram a investigar os subversivos. Pelo lado da Polícia Militar, implantou-se a guerra ideológica, policias militares eram treinados em contra-guerrilha, em guerra na selva, e tantas outros treinamentos desta natureza. Os equipamentos adquiridos para as forças policiais, eram para serem aplicados na defesa do estado e não na defesa da sociedade. O objetivo era reprimir e capturar os chamados "subversivos". Uma vez preso os subversivos, estes eram trancafiados em prisões comuns, compartilhando o seu espaço com os chamados bandidos comuns, criando uma mistura explosiva aonde as experiências eram trocadas, permitindo que bandos de criminosos se organizassem.
Em fins da década de 70 e inicio da de 80 aconteceu o que se chamou de abertura política. Os presos políticos cassados pela ditadura começaram a voltar ao país. Com as eleições, muitos destes foram eleitos e começaram a ocupar suas cadeiras nas casas legislativas. O foco agora era um estado aberto, sem repressão, com garantias e direitos. Diante disto, foram adotadas várias leis que visavam exatamente garantir os direitos, não só daqueles que foram perseguidos, mas de toda a sociedade. Porém, como faltava a prática democrática, muitos equívocos foram praticados. Criou-se garantias que foram estendidas aos que não precisavam e não podiam tê-las, ou seja, os presos comuns. Também, houve uma séries de ações que visavam identificar e punir os responsáveis pelos excessos cometidos. Ai os que ainda estavam no poder tinham que se proteger, e foi feito. Novamente garantias foram criadas para proteger pessoas ou grupos específicos e acabaram contemplando a todos indistintamente, tal qual a famosa lei Fleury, para evitar que um dos expoentes da repressão política fosse parar atrás das grades. Por outro lado, os governantes com medo de serem taxados de reacionários, passaram a não mais ver com bons olhos investimentos nas instituições policiais. Não era de bom tom defender investimentos em melhoria nas polícias, não dava votos. Duas décadas se passaram, e o estado diminuiu sua presença na garantia da segurança dos cidadãos. Recolheu seu aparato repressor, mas esqueceu de aprimorar a defesa dos cidadãos. Por outro lado, os criminosos se fortaleceram. No meio disto tudo ficou a sociedade indefesa.
Assim passamos mais duas décadas e chegamos ao terceiro milênio. Temos que correr atrás do prejuízo. Por muito tempo, investir em segurança pública representava simplesmente a compra de viaturas, tanto para a Polícia Civil como para a Polícia Militar. A Polícia Civil, por ser investigativa necessitava de investimentos na área de investigações, e nada ou quase nada foi feito. Até hoje não temos um banco de dados nacional para a consulta de digitais, quem dirá de DNA. A Polícia Militar por ser preventiva necessitava de investimentos na área de relacionamento com a comunidade, pois é a comunidade que detém as informações necessárias para a execução eficaz do policiamento. Porém, por razões que a própria razão desconhece (ou não!), optou-se por realizar investimentos naquilo que fosse visto, ou seja as viaturas. A Polícia Civil não pode investigar com viaturas caracterizadas, que são facilmente identificáveis. A Polícia Militar por sua vez, passou a executar quase que ex clusivamente o policiamento motorizado. Com isto o PM se afastou do cidadão comum. Quando anteriormente, o policial andava a pé e conversava com aqueles que deveria proteger, funcionava uma parceria de resultados, aonde o PM recebia informações e em troca prestava segurança. No novo modelo que surgiu, o PM apenas circulava de viatura. Não conhecia mais aqueles que deveria proteger e nem por estes era conhecido. Acabou a troca de informações e a sensação de segurança foi embora.
A viatura tem a vantagem de cobrir uma maior área em menor tempo, mais apresenta uma grande desvantagem que é o distanciamento entre policia e cidadão. A viatura é excelente como apoio, tanto para conduzir o policial militar para o local a ser policiado como para dar a devida cobertura a estes policiais.
Na outra ponta do problema esta o sistema prisional. Relegado a último plano. Os presídios são insuficientes, por isto superlotados. Superlotados, não sociabilizam ninguém. E, o preso acaba por sair pior do que quando entrou. Os presídios se tornaram depósitos de presos e não centros de recuperação.
Hoje no terceiro milênio, a insegurança bateu a nossa porta. Todos pedem mais policiamento, todos querem ter um policial por perto. È uma triste ilusão. A presença do policial impede o cometimento do ato criminoso naquele momento. Porem, o criminoso vai escolher outro momento e outra vítima. O policiamento preventivo funciona para aquele momento, e funciona muito bem. O policiamento preventivo é fundamental, pois partimos do principio que já existe um criminoso formado e vítimas em potencial prontas para serem atacadas. A função do policiamento preventivo é evitar que o fato criminoso se consuma no local e horário atendido, mas como a polícia não pode cobrir todos os cantos das cidades 24 horas por dia, faz-se a escolha de aplicar o policiamento nos horários e locais mais vulneráveis. Assim, as pessoas continuam pedindo mais policiamento e se esquecem de que o problema é mais complexo. É como ter que matar um dragão todo dia. Você mata o de hoje, mas sabe que amanhã vai ter outro, e para resolver a situação, é preciso atacar o ninho de onde estão saindo estes dragões. Assim o comerciante que faz passeata e pede por mais policiais nas ruas do centro comercial, se esquece de que ao chegar em casa pode descobrir que a sua família foi vítima de um crime. Por isto, aprimorar o treinamento e melhorar os equipamentos a disposição das policias é uma medida das mais urgentes e necessárias, mas é paleativa. É necessária, mas não é a única. E, ser for a única solução apresentada pelos governantes, será ineficaz, pois não existe um único remédio capaz de curar todos os males. Devemos lembrar sempre que a policia atua na conseqüência, a causa deve ser combatida por toda a sociedade. As causas da criminalidade residem basicamente na impunidade e nas questões sociais.
Paulo Roberto Bornhofen é Tenente-Coronel da Polícia Militar de Santa Catarina"
ACORDO DE RESULTADOS – 30 MOEDAS
Publico o texto abaixo, atendendo solicitação do amigo, Delegado de Polícia e Professor Dr. Rodney Malveira.
Segue o texto:
Difícil escrever ou falar sobre um acordo que me inclui e do qual não participei.
Entretanto, apesar disso, sofro os seus efeitos e, uma vez que, querendo ou não, estou nele incluído, sendo parte dele, posso manifestar minhas impressões, sem correr o risco de estar ferindo suscetibilidades, criticando esse ou aquele, simplesmente porque sou parte.
Por ser parte, cumpre-me denunciar o acordo em seu ponto principal, qual seja, a integração das polícias, porque é certo que estamos sendo invadidos em nossas atribuições e a cada dia que passa essa dita integração está nos desintegrando.
Não pretendo ser e não sou arauto do pessimismo. Não torço para que as coisas dêem errado. Exijo respeito, só isso.
Para aqueles que já participaram das reuniões do IGESP é que falo, porque puderam ver como a Polícia Civil é tratada, bastando lembrar as diversas vezes em que a PM utilizou ardis, como se tem notícia, ocupando quase todo o tempo disponível e chegando ao cúmulo de boicotar nossos dados nas apresentações conjuntas.
Bom, isso não ocorre só nas reuniões do IGESP, pois é já bem normal o desrespeito sistemático da PM às nossas atribuições constitucionais, sendo inclusive tolerado e corroborado por diversos integrantes do MP e do Judiciário.
Dessa forma, como o que se firmou foi um acordo entre o governo e os órgãos que integram a SEDS (PC/PM/BM/SUAPI) e esse acordo, que é um contrato, está sendo descumprido por uma das partes, com frontal e sucessivo desrespeito, nem é preciso ser especialista em Direito Contratual para saber que cabe aqui a resolução dessa avença.
Ademais, o que se recebe por esse dito acordo que nos foi impingido e nos está arruinando, é muito pouco. Estamos sendo no mínimo hipócritas, aceitando nos reunir e festejar com aqueles que seguem procurando nos destruir e nos desmerecer, para receber, uma vez no ano, 80% (trinta moedas) de um salário que nem mesmo nos 100 % atende às nossas necessidades.
Para comprovar o descumprimento do acordo nem é preciso ir longe, basta ver como têm agido nossos “companheiros de farda” nesse momento de implantação das 40 horas semanais (que eles já cumprem há bastante tempo), ao fazerem lobby em cima de promotores e juízes para que peçam e concedam as liminares em ACP, visando desarticular nosso lícito movimento.
Poderia ficar recordando as inúmeras agressões funcionais que sofremos por parte dos nossos “companheiros de farda”, mas não pretendo acirrar ódios, nem semear discórdia, pois na verdade quero chamar atenção dos colegas para que reflitam muito se vale à pena nos reunirmos teatralmente com aqueles que têm nos causado mal, pra no final, depois de mostrarmos nossos numerosinhos burocráticos, recebermos aqueles 80% (trinta moedas)do salário que servem apenas para nos tirar do cheque especial por um ou dois meses.
Além do mais, se não for bastante o argumento acima exposto, constatamos indignados que a qualidade de nosso serviço policial de nada está valendo, pois em todas essas reuniões que fui, só vi números, que, verdadeiros ou não, não expressam a real situação da Polícia Civil. A excelência de nosso trabalho, que é intelectual, não pode ser aferida apenas por números, que talvez sejam o bastante para demonstrar quantos boletins de ocorrência foram lavrados, quantos carros foram multados, quantas armas de fogo foram apreendidas, quantas pessoas foram presas, etc., mas não para demonstrar nos crimes que foram esclarecidos, qual foi a estratégia do delegado de polícia, quais foram as técnicas de investigação utilizadas, como se articularam os investigadores de polícia, de que forma os escrivães de polícia concorreram para a tomada de bons depoimentos, como atuaram nossos peritos e médicos legistas, etc. Enfim, números não mostram o nosso trabalho, que segue desvalorizado e nós mesmos somos culpados, porque aceitamos este acordo por 30 moedas.
Finalizando, como parte que sou do tal acordo, sugiro que o denunciemos, posto que só nos está prejudicando, e que tenhamos coragem e renunciemos todos nós Delegados de Polícia, às 30 moedas em nome da nossa dignidade.
Saudações.
Rodney Malveira da Silva
Delegado de Polícia